terça-feira, 25 de novembro de 2008

Estado de Exceção - Parte II

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Dando continuidade ao raciocínio de Agamben, o que a arca do poder contém em seu centro é o estado de exceção – mas esse é essencialmente um espaço vazio, onde uma ação humana sem relação com o direito está diante de uma norma sem relação com a vida.
Isso não significa que a máquina, com seu centro vazio, não seja eficaz; ao contrário, o que se procura mostrar é, justamente, que ela continuou a funcionar quase sem interrupção a partir da I Guerra Mundial, por meio do nazismo/fascismo, até nosso dias.
O estado de exceção, hoje, atingiu exatamente seu máximo desdobramento planetário. O aspecto normativo do direito pode ser, assim, impunemente eliminado e contestado por uma violência governamental que, ao ignorar no âmbito externo o direito internacional e produzir no âmbito interno um estado de exceção permanente, pretende, no entanto, ainda aplicar o direito.
Não se trata, naturalmente, de remeter o estado de exceção a seus limites temporal e espacialmente definidos para reafirmar o primato de uma norma e de direito que, em última instancia, têm nele próprio fundamento. O retorno do estado de exceção efetivo em que vivemos ao estado de direito não é possível, pois o que está em questão agora são os próprios conceitos de “estado” e de “direito”. Mas, se é possível tentar deter a máquina, mostrar sua ficção central, é porque, entre violência e direito, entre vida e norma, não existe nenhuma articulação substancial. Ao lado do movimento que busca, a todo custo, mente-los em relação, há um contramovimento que, operando em sentido inverso no direito e na vida, tenta, a cada vez, separar o que foi artificial e violentamente ligado.
No campo e tensões de nossa cultura, agem, portanto, duas forças opostas: uma que institui e que põe e outra que desativa e depõe. O estado de exceção constitui o ponto da maior tensão dessa força e, ao mesmo tempo, aquele que, coincidindo com a regra, ameaça hoje torna-la indiscerníveis. Viver sob o estado de exceção significa fazer a experiência dessas duas possibilidades e entretanto, separado a cada vez duas forças, tentar, incessantemente, interromper o funcionamento da máquina que está levando o Ocidente para a guerra civil mundial. [1]

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[1] AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção.

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabens por ainda ser alguem que tenta fazer uma analise critica do capital, mas particular eu acho que os modelos de analise do capital precisam ser revistos. Você lê Agamben, provavelmente já leu Negri tb, e todos acabam voltando a Foucault e seu estratagema de biopoder, porém não estarão a cada nova fase do capital, e da sociedade, criando novos monstros transcendentes? A escola de Frankfurt, por exemplo, culpava o capital pelo estado de repressao na sociedade, e após 68, como a onda é culpar o liberalismo desenfreado (o individualismo, ou a modernidade liquida), para manter a crítica de Frankfurt (que é a da Marx), foi necessário elaborar novas idéias de poder, estado de sítio, biopoder, porque não é possível dizer que assim é o homem, que sempre haverá um poder do capital (o inimigo) para impedir o homem de ser livre, como se, deixado a própria sorte, fosse mais livre o homem, por ser um ser completo.

Bom, já filosofo. By the way, adicionei vc no MSN, jpmorais80@hotmail.com

Evelyn disse...

O Agamben tem uma critica legal ao Foucault, se não me engano no Homo Sacer ou no Estado de Exceção....
Mas a linha de Marx não é bem "culpar" o capital. Bem te adiciono no msn ai nós conversamos melhor.