quinta-feira, 31 de março de 2011
Fim das Convenções
Dito isto, alguns pontos da nova conjuntura merecem atenção:
1. Parabenizar o poder judiciário pelo magnifico desemprenho no processo de cassação, visto que processo celeres e objetivos como este conotam respeito à sociedade que a tempos encontra-se farta da impunidade política;
2. Afirmar a importância da atual conjuntura política municipal, onde é percebível a crise da cultura coronelista, oligarquica e clientelista que a muito impera(va) em nosso municipio;
3. Enaltecer a maturidade com que os partidos da base governamental (federal)discutiram sua correlações de forças e encaminharam suas políticas de alianças; e por fim
4. Que apensar das divergências históricas entre PT e PMDB não somente a nível municipal, mas também Estadual - respectivos partidos conseguiram superar a antagonismo existente e evitar que a conjuntura política de Caçador se repetisse tal como o pleito de 2008, i.é, uma "tragédia grega".... que só legitimou a vitória do projeto neoliberalista, das políticas de privatizações, das CPIs etc., que felizmente teve seu fim com este processo de cassação.
Feistas a convenções, a nova conjuntura política de Caçador esta traçada - que bons frutos nos rendam!
Os tucanos depenados
* Blog do Moacir Pereira
O prefeito de José Boiteux, José Luiz Lopes, também foi cassado pela Justiça Eleitoral. A eleição do novo prefeito está marcada para o mês de abril. No Oeste, José Maria Branco perdeu o cargo de prefeito em São José do Cerrito. Assumiu o vice-prefeito. Euri Jung também teve cassado o mandato de prefeito de Cunha Porã. E José Alciomar de Matias foi cassado no cargo de prefeito de Celso Ramos.
O PSDB perdeu o comando de vários municípios em 2008. Mas tem em Criciúma seu maior colégio eleitoral. Clésio Salvaro realiza uma administração positiva e credencia-se como forte candidato à reeleição. Há, contudo, uma pendência. Foi condenado pelo Tribunal Regional Eleitoral em 2008 e está inelegível por três anos. A sentença transitou em julgado. A punição termina este ano. Mas, segundo juristas, ele pode ser alcançado pela Lei da Ficha Limpa em 2012."
quarta-feira, 30 de março de 2011
1964: data incômoda para a direita
"A data é incômoda para a direita e, especialmente, para a imprensa. Escondem, envergonhados, seu passado para que ninguém saiba o papel que tiveram a favor da ditadura e contra a democracia. Por isso tem que ressoar sempre nos ouvidos de todos a pergunta: onde você estava no golpe de 1964?
*Blog do Emir - Carta Maior
A cada ano, quando nos aproximamos da data do golpe de 1964, uma sensação incômoda se apossa da direita – dos partidos, políticos e dos seus meios de comunicação. O que fazer? Que atitude tomar? Fingir que não acontece nada, abordar de maneira “objetiva”, como se eles não tivessem estado comprometidos com a brutal ruptura da democracia no momento mais negativo da história brasileira ou abordar como se tivessem sido vítimas do regime que ajudaram a criar?
Difícil e incômoda a situação, porque a imprensa participou ativamente, como militância politica, da preparação do golpe, ajudando a criar um falso clima tanto de que o Brasil estivesse sob risco iminente de uma ruptura da democracia por parte da esquerda, como do falso isolamento do governo Jango. Pregaram o golpe, mobilizaram para as Marchas da Família, com Deus, pela Liberdade, convocadas pela Igreja, tentaram passar a ideia de que se tratava de um movimento democrático contra riscos de ditadura e promoveram a maior ruptura da democracia que o Brasil conheceu e a chegada ao poder da pior ditadura que conhecemos.
Na guerra fria, a imprensa brasileira esteve plenamente alinhada com a politica norteamericana da luta contra a “subversão” contra o “comunismo”, isto é, com o radicalismo de direita, com as posições obscurantistas e contrárias à democracia, estabelecida com grande esforço no Brasil. Estiveram em todas as tentativas de golpe contra Getúlio e contra JK. Em suma, a posição golpista da imprensa brasileira em 1964 não foi um erro ocasional, um acidente de percurso, mas a decorrência natural do alinhamento na guerra fria com as forças pró-EUA e que se opuseram com todo empenho ao processo de democratização que o Brasil viveu na década de 1950.
Deve prevalecer um misto de atitude envergonhada de não dar muito destaque ao tema, com matérias que pretendam renovar a ideia equivocada de que a imprensa foi vitima da ditadura – quando foi algoz, aliado, fator no desencadeamento do golpe e da ditadura. (O livro de Beatriz Kushnir, Cães de guarda, da Boitempo, continua a ser leitura indispensável para uma visão real do papel da mídia no golpe e na ditadura.) Promoveu o golpe, saudou a instalação da ditadura e a ruptura da democracia, tratou de acobertar isso como se tivesse sido um movimento democrático, encobriu a repressão fazendo circular as versões falsas da ditadura, elogiou os ditadores, escondeu a resistência democrática, classificou as ações desta resistência como terroristas – em suma, foi instrumento do regime de terror contra a democracia.
Por isso a data é incômoda para a direita, mas especialmente para a imprensa, que quer passar por arauto da democracia, por ombudsman das liberdades politicas. Quem são os Mesquitas, os Frias, os Marinhos, os Civitas, para falar em nome da democracia?
Por isso escondem, envergonhados, seu passado, buscam a falta de memória do povo, para que não saibam seu papel a favor da ditadura e contra a democracia, no momento mais importante da história brasileira. Por isso tem que ressoar sempre nos ouvidos de todos a pergunta: Onde você estava no golpe de 1964?"
domingo, 27 de março de 2011
Diálogos
- Essa história, contudo, mostra que, por vezes, a cólera luta contra os desejos, como sendo coisas distintas.
- De fato, mostra.
- Ora já em muitas outras ocasiões sentimos que, quando as paixões forçam o homem contra a sua razão, ele se censura a si mesmo, se irrita com aquilo que, dentro de si, o força, e que, como se houvesse dois contedores em luta, a cólera se torna aliada da sua razão. Mas não creio que digas que ela se associa aos desejos, quando, tendo a razão determinado que não se devia proceder contra ela, alguma vez te foi possível sentir estas reações em ti, nem tampouco nos outros.
- Por Zeus que não!
A República - Platão
sexta-feira, 25 de março de 2011
Por não estarem distraídos
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque – a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras – e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."
CLARISSE LISPECTOR
segunda-feira, 21 de março de 2011
Sobre o tempo: este que não pará para nos esperar...
"O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor; embora inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento; sem medida que o conheça, o tempo é contudo nosso bem de maior grandeza: não tem começo, não tem fim; é um pomo exótico que não pode ser repartido, podendo entretanto prover igualmente a todo mundo; onipresente, o tempo está em tudo; existe tempo, por exemplo, nessa mesa antiga: existiu primeiro uma terra propícia, existiu depois uma árvore secular feita de anos sossegados, e existiu finalmente uma prancha nodosa e dura trabalhada pelas mãos de um artesão dia após dia; existe tempo nas cadeiras onde nos sentamos, nos outros móveis da família, nas paredes da nossa casa, na água que bebemos, na terra que fecunda, na semente que germina, nos frutos que colhemos, no pão em cima da mesa, na massa fértil dos nossos corpos, na luz que nos ilumina, nas coisas que nos passam pela cabeça, no pó que dissemina, assim como em tudo que nos rodeia; rico não é o homem que coleciona e se pesa no amontoado de moedas, e nem aquele, devasso, que se estende, mãos e braços, em terras largas; rico só é o homem que aprendeu, piedoso e humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não contrariando suas disposições, não se rebelando contra seu curso, não irritando sua corrente, estando atento para o seu fluxo, brindando-o antes com sabedoria para receber dele os favores e não a sua ira; o equilíbrio da vida depende essencialmente deste bem supremo, e quem souber com acerto a quantidade de vagar, ou a de espera, que se deve pôr nas coisas, não corre nunca o risco, ao buscar por elas, de defrontar-se com o que não é; por isso ninguém em nossa casa a de dar o passo mais largo que a perna: dar o passo mais largo qu a perna é o mesmo que suprimir o tempo necessário à nossa iniciativa; e ninguém em nossa casa a de colocar o carro a frente dos bois: colocar o carro a frente dos bois é o mesmo que retirar a quantidade de tempo que um empreendimento exige; e ninguém ainda em nossa casa há de começar nunca as coisas pelo teto: começar as coisas pelo teto é o mesmo que eliminar o tempo que se levaria para erguer os alicerces e as paredes de uma casa; aquele que exorbita no uso do tempo, precipitando-se de modo afoito, cheio de pressa e ansiedade, não será jamais recompensado, pois só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas, não bebendo do vinho quem esvazia num só gole a taça cheia; mas fica a salvo do malogro e livre da decepção quem alcançar aquele equilíbrio, é no manejo mágico de uma balança que está guardada toda a matemática dos sábios, num dos pratos a massa tosca, modelável, no outro, a quantidade de tempo a exigir de cada um o requinte do cálculo, o olhar pronto, a intervenção ágil ao mais sutil desnível; são sábias as mãos rudes do peixeiro pesando sua pesca de cheiro forte: firmes, controladas, arrancam de dois pratos pendentes, através do cálculo conciso, o repouso absoluto, a imobilidade e sua perfeição; só chega a este raro resultado aquele que não deixa que um tremor maligno tome conta de suas mãos, e nem que esse tremor suba corrompendo a santa força dos braços, e nem circule e se estenda pelas áreas limpas do corpo, e nem intumesça de pestilências a cabeça, cobrindo os olhos de alvoroço e muitas trevas; não é na bigorna que calçamos os estribos, nem é inflamável a fibra com que tecemos as tranças de nossas rédeas, pode responder a que parte vai quem monta, por que é célere, um potro xucro? O mundo das paixões é o mundo do desequilíbrio, é contra ele que devemos esticar o arame das nossas cercas, e com as farpas de tantas fiadas tecer um crivo estreito, e sobre este crivo emaranhar uma sebe viva, cerrada e pujante, que divida e proteja a luz calma e clara da nossa casa, que cubra e esconda dos nossos olhos as trevas que ardem do outro lado; e nenhum entre nós há de transgredir esta divisa, nenhum entre nós há de estender sobre ela sequer a vista, nenhum entre nós há de cair jamais na fervura desta caldeira insana, onde uma química frívola tenta dssolver e recriar o tempo; não se profana impunemente ao tempo a substância que só ele pode empregar nas transformações, não lança contra ele o desafio quem não receba de volta o golpe implacável do seu castigo; ai de quem brinca com fogo: terá as mãos cheias de cinza; ai daquele que se deixa arrastar pelo calor de tanta chama: terá a insônia como estigma; ai daquele que deita as costas nas achas desta lenha escusa: há de purgar todos os dias; ai daquele que cair e nessa queda se largar: há de arder em carne viva; ai daquele que queima a garganta com tanto grito: será escutado por seus gemidos; ai daquele que se antecipa no processo das mudanças: terá as mãos cheias de sangue; ai daquele, mais lascivo, que tudo quer ver e sentir de um modo intenso: terá as mãos cheias de gesso, ou pó de osso, de um branco frio, ou quem sabe sepulcral, mas sempre a negação de tanta intensidade e tantas cores: acaba por nada ver, de tanto que quer ver; acaba por nada sentir, de tanto que quer sentir; acaba só por expiar, de tanto que quer viver; cuidem-se os apaixonados, afastando dos olhos a poeira ruiva que lhes turva a vista, arrancando dos ouvidos os escaravelhos que provocam turbilhões confusos, expurgando do humor das glândulas o visgo peçonhento e maldito; erguer uma cerca ou guardar simplesmente o corpo, são esses os artifícios que devemos usar para impedir que as trevas de um lado invadam e contaminem a luz do outro, afinal, que força tem o redemoinho que varre o chão e rodopia doidamente e ronda a casa feito fantasma, se não expomos nossos olhos à sua poeira? é através do recolhimento que escapamos ao perigo das paixões, mas ninguém no seu entendimento há de achar que devamos sempre cruzar os braços, pois em terras ociosas é que viceja a erva daninha: ninguém em nossa casa há de cruzar os braços quando existe a terra para lavrar, ninguém em nossa casa há de cruzar os braços quando existe a parede para erguer, ninguém ainda em nossa casa há de cruzar os braços quando existe o irmão para socorrer; caprichoso como uma criança, não se deve contudo retrair-se no trato do tempo, bastando que sejamos humildes e dóceis diante de sua vontade, abstendo-nos de agir quando ele exigir de nós a contemplação, e só agirmos quando ele exigir de nós a ação, que o tempo sabe ser bom, o tempo é largo, o tempo é grande, o tempo é generoso, o tempo é farto é sempre abundante em suas entregas: amaina nossas aflições, dilui a tensão dos preocupados, suspende a dor aos torturados, traz a luz aos que vivem nas trevas, o ânimo aos indiferentes, o conforto aos que se lamentam, a alegria aos homens tristes, o consolo aos desamparados, o relaxamento aos que se contorcem, a serenidade aos inquietos, o repouso aos sem sossego, a paz aos intranqüilos, a umidade às almas secas; satisfaz os apetites moderados, sacia a sede aos sedentos, a fome aos famintos, dá a seiva aos que necessitam dela, é capaz ainda de distrair a todos com seus brinquedos; em tudo ele nos atende, mas as dores da nossa vontade só chegarão ao santo alívio seguindo esta lei inexorável: a obediência absoluta à soberania incontestável do tempo, não se erguendo jamais o gesto neste culto raro; é através da paciência que nos purificamos, em águas mansas é que devemos nos banhar, encharcando nossos corpos de instantes apaziguados, fruindo religiosamente a embriaguez da espera no consumo sem descanso desse fruto universal, inesgotável, sorvendo até a exaustão o caldo contido em cada bago, pois só nesse exercício é que amadurecemos, construindo com disciplina a nossa própria imortalidade, forjando, se formos sábios, um paraíso de brandas fantasias onde teria sido um reino penoso de expectativas e suas dores (..)"
Lavoura Arcaica – Raduan Nassar
terça-feira, 15 de março de 2011
O amor
"Posso agora dizer ao tempo, em seus rigores:
- Não envelheço, não! podeis correr, sem calma,
Levando na torrente as vossas murchas flores
Ninguém há de colher a flor que eu tenho n’alma!"
(...)
domingo, 13 de março de 2011
As mulheres não são homens
ÓTIMO TEXTO DO PROFESSOR BOAVENTURA DE SOUZA SANTOS - PARA LER NA ÍNTEGRA ACESSE O SITE CARTA MAIOR, OU CLICK AQUI.
quarta-feira, 9 de março de 2011
terça-feira, 8 de março de 2011
DIA INTERNACIONAL DA MULHER - II
AS MULHERES GUERREIRAS
"Sei da fonte de onde brota a guerreira,
sei da coragem que transpira mulher,
sei que nos campos de batalha
és sempre a primeira a guiar teu povo,
a perceber ciladas, a derrubar barreiras,
para que possam seguir sempre em frente.
Sei do mel que escorre dos teus olhos,
e da generosidade amiga do teu colo,
sei que és palavra abrigo às tormentas,
e que no furor das batalhas,
não trazes nas mãos sangue inocente.
Conheço tua têmpera, sei também que trazes
a força e a justeza dos puros de coração.
Sei dos teus sonhos e do quanto eles podem curar.
E ainda que haja a espera, a distância e a perda,
sei que a danada da saudade
não será capaz de te matar,
pois tens a benção dos ungidos,
dos que conhecem os segredos das águas,
do fogo, da pedra e do ar.
Sei que trazes nas mãos as sementesda
Paz que ainda há de chegar."
DIA INTERNACIONAL DA MULHER - I
Em fevereiro de 1917, na Rússia, manifestações de mulheres tomaram as ruas de Petrogrado.Eram manifestações contra a guerra, a fome, a escassez de alimentos. Ao mesmo tempo, operárias do setor têxtil entraram em greve. Era o dia 23 de fevereiro (que corresponde ao dia 8 de março no antigo calendário ortodoxo), que se comemorava o Dia Internacional das Mulheres na Rússia. Essas manifestações cresceram, envolveram outros grupos, duraram vários dias, e deram início à Revolução Russa. A mobilização de mulheres precipitou as mobilizações que tornaram vitoriosa a evolução russa.Alexandra Kollontai, dirigente feminista da revolução socialista, escreveu sobre o fato e sobreo 8 de março. Diz ela: "O dia das trabalhadoras em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro, no antigo calendário) foi uma data memorável na história (...) A revolução de fevereiro começou nesse dia". O fato também é mencionado por Trotski, dirigente da revolução, na História da Revolução Russa. Trotski conta que o dia 23 de fevereiro (8 de março), era o Dia Internacional da Mulher.Estavam programados atos, encontros etc. Mas não se podia imaginar “que o Dia da Mulher pudesse inaugurar a revolução”. Estavam sendo pensadas ações revolucionárias, mas sem data prevista. Mas pela manhã, a despeito das diretivas, as operárias têxteis deixam o trabalho de várias fábricas e enviam delegadas para solicitar o apoio à greve... “o que se transforma em greve de massas.... todas descem às ruas".Nessas narrativas fica claro que as mulheres desencadearam as mobilizações, a greve geral,saindo corajosamente, às ruas de Petrogrado, no Dia Internacional das Mulheres, contra a fome, a guerra e o czarismo. As mobilizações, a revolução foi desencadeada por elementos de base que superaram os temores das direções e a iniciativa coube, em especial, às operárias mais exploradas e oprimidas, as têxteis. O número de grevistas foi em torno de 90 mil, a maioria mulheres.Renée Côté menciona, por fim, documentos de 1921 da Conferência Internacional dasMulheres Comunistas onde "uma camarada búlgara propõe o 8 de março como data oficial do Dia Internacional da Mulher, lembrando a iniciativa das mulheres russas". Assim, a partir de 1922, o Dia Internacional da Mulher passou a ser celebrado oficialmente no dia 8 de março.Essa história se perdeu nos grandes registros históricos seja do movimento socialista, sejados historiadores do período. Faz parte do passado histórico e político das mulheres e do movimento feminista de origem socialista no começo do século. Recuperar, retomar e recontar a história do dia Internacional das Mulheres é, também, reafirmar a história das luta das mulheres inserida na luta pela transformação geral da sociedade. É recompor um pedaço da história do feminismo que se apresenta como um elo indispensável da luta das mulheres e da luta socialista. Neste ano de 2010, quando se completam cem anos da instituição do Dia Internacional das Mulheres, é central retomar essa história de luta. A SOF-Sempreviva Organização Feminista e a Editora Expressão Popular publicam em português um estudo detalhado sobre a história dessa data.O livro As origens e a comemoração do Dia Internacional das Mulheres, de Ana Isabel ÁlvarezGonzález, conta a história desse dia, esclarecendo versões que durante anos deixaram noesquecimento a luta das mulheres socialistas.Desencontros, mitos e fantasias. Quantas vezes não ouvimos contar que o Dia Internacional da Mulher foi criado em homenagem a operárias têxteis mortas em um incêndio em 1857, em Nova York. Ou talvez em 1908 ou 1910. Ou mesmo que a comemoração, decidida em 1910 na conferência de mulheres socialistas, escolheu o dia 8 de março para lembrar as operárias mortas em um incêndio. Como vimos acima, a criação do Dia Internacional das Mulheres não tem qualquer vinculação com eventos de greves ou de incêndio ocorrido nos Estados Unidos. Algumas feministas européias na década de 1970 já levantavam dúvidas sobre essas versões e foram sugerindo pesquisas que pudessem desvendar as histórias repetidas sem qualquer evidência.Em 1911, ocorreu em Nova York um incêndio em uma fábrica têxtil onde morreram mais deuma centena de trabalhadores, em sua imensa maioria mulheres. Um evento trágico e importante para a história do movimento dos trabalhadores nos Estados Unidos. Nesta data, entretanto, as militantes socialistas já haviam aprovado a criação do Dia Internacional das Mulheres. E o incêndio tampouco ocorreu na data do dia 8 do mês de março. Ao misturar, contar e recontar histórias também se escondeu uma história política, das militantes socialistas. Recuperar os elos perdidos dos fatos e da história enriquece a luta das mulheres. O ciclo de lutas, numa era de grandes transformações sociais, até as primeiras décadas do século XX, tornaram o Dia Internacional das Mulheres o símbolo da participação ativa das mulheres para transformarem a sua vida e transformarem a sociedade.
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Referências bibliográficas:CÔTÉ, Renée. La Journée Internationale des Femmes. Ou les vrais faits et les vraies dates desmystérieuses origines du 8 de mars jusqu'ici embrouillées, truquées, oubliées: la clef des énigmes. Lavérité historique. Montreal: Les Éditions du Remue-ménage, 1984.ÁLVAREZ GONZALEZ, Ana Isabel. As origens e a comemoração do Dia Internacional das Mulheres. SãoPaulo: SOF / Expressão Popular, 2010.
segunda-feira, 7 de março de 2011
Oscar Wilde
- Não, Harry. A alma é uma terrivel realidade. Pode ser comprada, vendida ou trocada. Uma pessoa pode envenená-la ou aperfeiçoá-la. Cada um de nós possui sua alma. Tenho certeza.
- Tem certeza absoluta, Dorian?
- Sim.
- Ah! Então não passa de uma ilusão. As coisas de que estamos absolutamente certos nunca o são realmente. É essa a fatalidade da Fé a e lição da Ficção. Como você está sério! Não fique sério assim! Que temos eu e você a ver com as superstições de nossa época? Nada: nós nos desembaraçamos da crença na alma. Toque alguma coisa, toque um noturno, Dorian, e, enquanto toca, conte-me, conte-me, em voz baixa, como consegue conservar sua juventude. Deve ter algum segredo para isso. Tenho apenas mais dez anos que você e estou enrugado, gasto, minha pele está amarelecida. Você é realmente maravilhoso, Dorian. Nunca esteve tão encantador quanto essa noite. Faz-me lembrar o primeiro dia em que o vi. Você era um pouco mais gordo, muito tímido, mas inteiramente fora do comum. Você mudou, naturalmente, mas não na aparencia. Gostaria de conhecer seu segredo. Para recuperar minha juventude, seria eu capaz de tudo no mundo, menos de fazer ginástica, levantar-me cedo ou ser respeitável. Juventude! Não há nada que se possa comparar a ela! É absurdo falar-se da ignorância da juventude. As únicas opiniões que ouço com respeito são as das pessoas muito mais jovens que eu. Tenho a impressão de que estão na minha frente, pois a vida lhes revelou suas últimas maravilhas. Quanto aos velhos, sempre os contradiço. Faço-o por principio. Se você lhes perguntar sua opinião sobre algo que sucedeu ontem, eles lhe responderão solenemente com palavras e modos de pensar correntes em 1820, quando toda gente usava colarinho alto, acreditava em tudo e não sabia absolutamente nada. Como é delicioso estre trecho que você está tocando! Será que Chopin o compôs em Maiorca enquanto o mar gemia em torno de sua villa e a alva espuma salpicava as vidraças de suas janelas? É maravilhosamente romântico! Felizmente, ainda nos deixaram uma arte que não é imitativa. Não deixe de tocar. Esta noite preciso de música. Tenho a impressão de que você é o juvenil Apolo e eu sou Marsias que o escuta. Também tenho meus desgostos, Dorian, que nem mesmo você conhece. A tragédia da velhice não consiste no fato de ser velho, mas no de haver sido moço. Às vezes, eu mesmo me espanto da minha sinceridade. Ah! Dorian, como você é feliz! Que vida deliciosa tem levado! Soube tirar o máximo prazer de todas as coisas! Soube saborear os frutos mais apetitosos. A vida não teve segredo para você. E tudo passou a seu lado suavemente, como um som musical. Nada pôde maculá-lo: você é sempre o mesmo.
- Não sou o mesmo, Harry.
- Sim; é o mesmo. Gostaria de saber como terminará sua vida. Não a mutile com renúncias inúteis. Atualmente, você é o tipo perfeito. Não vá quebrar essa perfeição. No momento, você é irrepreensível. Não, não negue. Você sabe que é verdade. E, além disso, não procure enganar-se. A vida não pode ser guiada pela vontade ou pela intenção. A vida nada mais é que um amontoado de nervos, de fibras, de células que se formam lentamente, onde se esconde o pensamento e onde a paixão oculta seus sonhos. Você pode crer que se encontra inteiramente seguro e cheio de forças. No entanto, a simples tonalidade de um aposento, um céu matinal, um perfume singular que você amou um dia e que lhe traz sutis recordações, um verso esquecido de um poema que volta à sua mmória, um ritmo de uma peça musical que você deixou de tocar - digo-lhe, Dorian, que é de coisas assim que depende nossa vida. Browing já escreveu alguma coisa a esse respeito, mas nossos próprios sentidos no-lo fazem adivinhar. Há momentos, quando o perfume de litas blanc se insinua de repente em mim, em que torno a viver o mês mais extraordinário de minha vida. Gostaria de trocar de lugar com você, Dorian. O mundo sempre nos censurou, mas a você sempre adorou. E sempre adorará. Você é o tipo que nossa época procurava e que, todavia, receia ter encontrado. Alegro-me de que você nunca tenha feito nada: nem uma estátua, nem um quadro, enfim, que não tenha produzido coisa alguma à exceção de você mesmo! A vida foi a sua arte. Você é a própria música. Seus dias são seus sonetos.
Dorian levantou-se do piano e passou a mão pelos cabelos.
- Sim, minha vida foi extraordinária - murmurou -, mas não quero que continu assim, Harry. E você não devia dizer-me essas coisas estranhas. Conhece muito pouco de mim. Se soubesse de tudo, afastar-se-ia também de mim. Não se ria. Não se ria, por favor.
- Por que deixou de tocar, Dorian? Volte ao piano e toque novamente aquele noturno. Olhe para a grande lua côr de mel suspensa na escuridão. Lá está ela, esperando que você toque para encantá-la e atraí-la para a terra. Não quer? Vamos então ao clube. A noite foi encantadora e devemos fazê-la terminar do mesmo modo. Existe alguém no White que deseja muito conhecê-lo. É o jovem Lorde Poole, o primogênito de Bournemouth. Já imita suas gravatas e suplicou-me que o apresentasse a você. É uma pessoa deliciosa e faz-me lembrar você.
- Espero que não - disse, tristemente, Dorian Gray. - Mas esta noite estou cansando, Harry. Não irei ao clube. São quase onze horas e quero deitar-me cedo.
- Então fique. Você nunca tocou tão bem quanto esta noite. Sua execução foi maravilhosa. Havia nela uma expressão que me era desconhecida até o dia de hoje.
- É porque vou tornar-me bom - respondeu, sorrindo. - Já estou um pouco mudado.
- Em relação a mim, você não poderá mudar, Dorian - disse Lorde Henry. - Sejamos sempre amigos.
- Todavia, foi você quem me envenenou outrora, por meio de um livro que me emprestou. Não me esqueci. Prometa-me que nunca mais emprestará aquele livro a ninguém, Harry. É pernicioso.
- Meu caro amigo, vejo que você começa a se tornar, com efeito um verdadeiro moralista. Talvez chegue até a ficar como esses convertidos, ou como os pregadores protestantes, que nos previvem contra os pecados que eles próprios estão cansdos cometer. Você é por demais encantador para chegar a tanto. Além do que, seria inútil. Você e eu somos o que somos e seremos o que temos sido. Quanto a ser envenenado por um livro, é qualquer coisa de impossivel. A Arte não tem influencia sobre a ação. Faz desaparecer o desejo de agir. É soberbamente estéril. Os livros que o mundo considera imorais são os que mostram a própria vergonha dele. E isso é tudo. Mas não vamos discutir literatura. Venha buscar-me amanhã. Sairei a cavalo às onze horas. Poderemos ir juntos e depois eu o levarei para almoçar com Lady Branksome. É uma mulher encantadora e quer consultá-lo a respeito de algumas tapeçarias que pretende comprar. Não deixe de vir. Ou prefere almoçar com nossa duquesinha? Ela diz que quase nunca o vê. Será que já se cansou de Gladys? Acho que sim. A agudeza de seus ditos põe os nervos da gente à flor da pele. Bem, de toda maneira, esteja lá às onze.
- Deverei ir realmente, Harry?
- Decerto. O parque está belíssimo. Creio que nunca apresentou tantos lilases, desde o ano em que conheci você.
- Muito bem. Lá estarei às onze horas - disse Dorian. - Boa noite, Harry.
Ao chegar à porta, hesitou por um instante, como se tivesse mais alguma coisa para dizer. Depois suspirou e foi-se embora"
domingo, 6 de março de 2011
sábado, 5 de março de 2011
Metade
"Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também."