sábado, 5 de fevereiro de 2011

Velho Tema


Só a leve esperança em toda vida,
Disfarça a pena de viver mais nada;
Nem é mais a existência resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz sempre adiada,
E que não chega nunca em toda vida.

Essa felicidade que supomos
Árvore milagrosa em que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim; mas nós não alcançamos,
Porque está sempre onde nós a pomos,
E nunca pomos onde nós estamos.
.
*Poema de Vicente de Carvalho e imagem de René Magritte

Um comentário:

William Wollinger Brenuvida disse...

1. Belo soneto;
2. É uma questão de ponto de vista. Uma vez... estive hospedado num convento franciscano. Local simples, mas bem asseado. Lugar calmo, respirava a natureza que o circundava. Bebi o melhor vinho da minha vida. Mas lá... ouvi uma cantoria que subia, que penetrava as paredes e que dizia: "a felicidade aqui não se pode encontrar. É preciso rogar a Jesus". Meu corpo estremeceu, e eu escrevi isso:
“Um canto pobre, seco, e famélico,
corta um céu e as veias de um cego”
3. O termo "pobre", significa o voto de pobreza; talvez hoje... mais esclarecido trocaria o termo "seco" como "sequioso". Havia muita água, mas dela não se bebia... deixamos o restante para outra ocasião. Não gosto de me lembrar disso agora...
4. Talvez, minha querida, seja preciso ir adiante. Aprendendo e ensinando uma nova lição. Ainda que isso nos exija o coração arrancado do peito de modo atroz...
5. Hoje tenho uma ideia da Felicidade, e sigo um caminho menos penoso...