Chega ao fim as publicações direcionadas a analise da obra “Estado de Sítio” de Albert Camus. Logo, o desfeiche da dramaturgia, e após, um pequeno comentário será tecido, para melhor compreende-la.
"A SECRETÁRIA
Logo não haverá mais erros. Um segredo. Uma máquina aperfeiçoada. Você vai ver.
Ela se aproxima dele, frase após frase, até toca-lo. Ela o segura pela gola, tremendo de fúria.
DIEGO
Vamos, acabe logo! Acabe com esta comédia suja! O que esta esperando? Faça seu trabalho e não se divirta comigo, que sou maior que você. Mate-me, então; é a única maneira, eu juro, de salvar esse belo sistema que nada escapa. Ah! Você só leva em conta os conjuntos! Cem mil homens, assim a coisa fica interessante. É uma estatística, e as estatísticas são mudas! Como elas se traçam curvas e gráficos, heim! Trabalha-se com gerações, fica mais fácil! E o trabalho se desenrola no silêncio e com o cheiro da tinta. Mas eu a previno: um homem sozinho incomoda muito mais – grita sua alegria ou sua agonia. Enquanto viver, eu continuarei a bagunçar sua ordem. Eu rejeito vocês, rejeito-os do fundo da minha alma!
A SECTRETARIA
Meu querido!
DIEGO
Cale-se. Pertenço a uma raça que honrava tanto a morte como a vida. Mas seus senhores chegaram: viver e morrer são desonras...
A SECRETARIA
É verdade...
DIEGO (Sacudindo-a.)
É verdade que você mente e vai mentir, de agora em diante, até o fim dos tempos! Sim! Eu já entendi seu sistema. Vocês lhes deram a dor da fome e das separações para distraí-los da sua revolta. Vocês os exaurem, devoram seu tempo e suas forças para que não tenham nem lazer nem ânimo! Eles se arrastam, fiquem contentes! Estão socinhos, mesmo sendo uma massa; eu também estou sozinho. Cada um de nós está sozinho graças à covardia dos outros. Mas eu, seviciado com eles, humilhado como eles, digo que vocês não são nada. E este poder que se alastra a perder de vista, até escurecer o céu, é apenas uma sombra lançada sobre a terra; em um segundo, um vento furioso vai dissipa-la. Vocês acreditaram que podiam reduzir tudo a cifras e formulas! Mas, na sua bela nomenclatura, esqueceram a rosa selvagem, os sinais no céu, os rostos do verão, a grande voz do mar, o instante do dilaceramento e a cólera dos homens! (ela ri.) Não ria. Não ria, sua imbecil. Vocês estão perdidos, eu afirmo. Enquanto conseguem vitórias aparentes, já estão vencidos, pois há no homem – olhe para mim – uma força que vocês não vão diminuir, uma loucura iluminada, um misto de medo e coragem, ignorante e vitoriosa para todo e sempre. É esta força que vai se erguer, e você vai saber que sua glória não passa de fumaça.
Ela ri
DIEGO
Não ria! Não ria!
Ela ri, ele a esbofeteia e, ao mesmo tempo os homens do coro arrancam suas mordaças e soltam um grande grito de alegria. Mas em sua fúria, Diego esmagou sua marca. Ele a leva a mão e à contempla em seguida.
Logo não haverá mais erros. Um segredo. Uma máquina aperfeiçoada. Você vai ver.
Ela se aproxima dele, frase após frase, até toca-lo. Ela o segura pela gola, tremendo de fúria.
DIEGO
Vamos, acabe logo! Acabe com esta comédia suja! O que esta esperando? Faça seu trabalho e não se divirta comigo, que sou maior que você. Mate-me, então; é a única maneira, eu juro, de salvar esse belo sistema que nada escapa. Ah! Você só leva em conta os conjuntos! Cem mil homens, assim a coisa fica interessante. É uma estatística, e as estatísticas são mudas! Como elas se traçam curvas e gráficos, heim! Trabalha-se com gerações, fica mais fácil! E o trabalho se desenrola no silêncio e com o cheiro da tinta. Mas eu a previno: um homem sozinho incomoda muito mais – grita sua alegria ou sua agonia. Enquanto viver, eu continuarei a bagunçar sua ordem. Eu rejeito vocês, rejeito-os do fundo da minha alma!
A SECTRETARIA
Meu querido!
DIEGO
Cale-se. Pertenço a uma raça que honrava tanto a morte como a vida. Mas seus senhores chegaram: viver e morrer são desonras...
A SECRETARIA
É verdade...
DIEGO (Sacudindo-a.)
É verdade que você mente e vai mentir, de agora em diante, até o fim dos tempos! Sim! Eu já entendi seu sistema. Vocês lhes deram a dor da fome e das separações para distraí-los da sua revolta. Vocês os exaurem, devoram seu tempo e suas forças para que não tenham nem lazer nem ânimo! Eles se arrastam, fiquem contentes! Estão socinhos, mesmo sendo uma massa; eu também estou sozinho. Cada um de nós está sozinho graças à covardia dos outros. Mas eu, seviciado com eles, humilhado como eles, digo que vocês não são nada. E este poder que se alastra a perder de vista, até escurecer o céu, é apenas uma sombra lançada sobre a terra; em um segundo, um vento furioso vai dissipa-la. Vocês acreditaram que podiam reduzir tudo a cifras e formulas! Mas, na sua bela nomenclatura, esqueceram a rosa selvagem, os sinais no céu, os rostos do verão, a grande voz do mar, o instante do dilaceramento e a cólera dos homens! (ela ri.) Não ria. Não ria, sua imbecil. Vocês estão perdidos, eu afirmo. Enquanto conseguem vitórias aparentes, já estão vencidos, pois há no homem – olhe para mim – uma força que vocês não vão diminuir, uma loucura iluminada, um misto de medo e coragem, ignorante e vitoriosa para todo e sempre. É esta força que vai se erguer, e você vai saber que sua glória não passa de fumaça.
Ela ri
DIEGO
Não ria! Não ria!
Ela ri, ele a esbofeteia e, ao mesmo tempo os homens do coro arrancam suas mordaças e soltam um grande grito de alegria. Mas em sua fúria, Diego esmagou sua marca. Ele a leva a mão e à contempla em seguida.
A SECRETÁRIA
Magnífico!
DIEGO
O que foi?
A SECRETÁRIA
Você foi magnífico na sua cólera! Estou gostando mais ainda de você.
DIEGO
O que aconteceu?
A SECRETÁRIA
Você está vendo. A marca desaparece. Continue, você está indo por um bom caminho.
DIEGO
Estou curado?
A SECRETÁRIA
Vou lhe conta rum pequeno segredo... o sistema deles é excelente. Você tem razão, mas há uma falha...
DIEGO
Não estou entendendo.
A SECRETÁRIA
Há um defeito meu querido. Pelo que eu saiba, sempre bastou que um homem vença seu medo e se revolte para que a máquina comece a falhar. Não digo que ela pare, longe disso. Mas, enfim, ela falha as vezes, degringola completamente.
Silêncio...
DIEGO
Pó que está me dizendo isso?
A SECRETÁRIA
Você sabe, cansa fazer o que eu faço, temos nossas fraquezas. E, depois, você descobriu por conta própria.
DIEGO
Teria sido poupado, se não lhe tivesse dado um tapa?
A SECRETÁRIA
Não, eu vim para acabar com você, de acordo com o regulamento.
DIEGO
Então, eu sou o mais forte!
A SECRETÁRIA
Ainda está com medo?
Magnífico!
DIEGO
O que foi?
A SECRETÁRIA
Você foi magnífico na sua cólera! Estou gostando mais ainda de você.
DIEGO
O que aconteceu?
A SECRETÁRIA
Você está vendo. A marca desaparece. Continue, você está indo por um bom caminho.
DIEGO
Estou curado?
A SECRETÁRIA
Vou lhe conta rum pequeno segredo... o sistema deles é excelente. Você tem razão, mas há uma falha...
DIEGO
Não estou entendendo.
A SECRETÁRIA
Há um defeito meu querido. Pelo que eu saiba, sempre bastou que um homem vença seu medo e se revolte para que a máquina comece a falhar. Não digo que ela pare, longe disso. Mas, enfim, ela falha as vezes, degringola completamente.
Silêncio...
DIEGO
Pó que está me dizendo isso?
A SECRETÁRIA
Você sabe, cansa fazer o que eu faço, temos nossas fraquezas. E, depois, você descobriu por conta própria.
DIEGO
Teria sido poupado, se não lhe tivesse dado um tapa?
A SECRETÁRIA
Não, eu vim para acabar com você, de acordo com o regulamento.
DIEGO
Então, eu sou o mais forte!
A SECRETÁRIA
Ainda está com medo?
DIEGO
Não.
A SECRETÁRIA
Então, não posso fazer nada contra você. Isto também está no regulamento. Mas posso lhe dizer: é a primeira vez que este regulamento tema minha aprovação.
Ela se retira docemente. Diego tateia o próprio corpo, olha ainda sua mão e vira-se bruscamente na direção dos gemidos.
Ela vai, em meio ao silencio, até um doente amordaçado. Cena muda. Diego avança a mão para a mordaça e a retira.
É o pescador. Olham-se em silencio, e depois:
O PESCADOR
Boa noite, irmão. Há muito tempo que eu não falava.
Diego sorri para ele.
O PESCADOR (Erguendo os olhos ao céu.)
O que é isto?
O céu claro, de fato. Sopra uma brisa, que sacode uma das portas, fazendo com que algumas cortinas flutuem.
O povo as cerca agora. Mordaças desatadas, os olhos levantados para o céu.
O vento do mar...
-PANO-
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* [Percebemos nesse desfeche da dramaturgia, a manifestação subjetiva do indivíduo enquanto ser social, capaz de emanar a coragem necessária, ora velada, ora aberta, para desmecanizar o monopólio do status totalitarista.
Para Albert Camus, o medo era o maior mal do Séc. XX e, por isso, ele o utiliza, bem como a superação do mesmo, como fio condutor desta obra.
Contudo, a força coercitiva, uma caracteristica governamental, confunde-se com seu oposto, a fraqueza. Ou seja, um povo crédulo – e a credulidade mecanismo fomenal estatal – facilitaria muito a permanência da opressão, caso não sueparada.]
Para Albert Camus, o medo era o maior mal do Séc. XX e, por isso, ele o utiliza, bem como a superação do mesmo, como fio condutor desta obra.
Contudo, a força coercitiva, uma caracteristica governamental, confunde-se com seu oposto, a fraqueza. Ou seja, um povo crédulo – e a credulidade mecanismo fomenal estatal – facilitaria muito a permanência da opressão, caso não sueparada.]